Hoje faltam exatamente 9 dias para te perder. E eu sei disso porque contei cada um deles, como quem marca os batimentos finais de um coração prestes a parar. Nove dias para você ir embora e deixar para trás tudo o que nunca quis admitir que tínhamos. Talvez você nem tenha deixado de ser quem era antes de mim. Talvez eu tenha sido apenas uma pausa entre seus passos em direção ao nada.
Eu lembro como foi tocar sua boca pela primeira vez. O instante em que nossas respirações se confundiram, e eu senti que o amor podia ser mais do que uma palavra clichê. Com você, o amor parecia real, quase tangível. Mas, agora, me pergunto: e para você? Foi apenas um momento, sem promessas, sem destino? Ou algo que você quis tanto quanto eu, mas teve medo de chamar pelo nome?
Eu queria muito te contar. Dizer que essas palavras são pra você. Mas não posso. Não depois de tudo que já confessei. Depois de abrir minha alma e ainda assim nos encontrarmos presos no mesmo lugar, com os mesmos rótulos que você insiste em manter.
Eu não sei por quanto tempo mais vou aguentar esse peso no peito, essa dor que lateja como uma ferida aberta. Você diz que não acredita no amor, que ele é uma ilusão. Mas seus gestos me contradizem. As madrugadas que passa comigo me fazem acreditar que o tempo pode parar ali, entre nós. E eu fico, pendurada nesse fio de esperança que corta como lâmina, porque é impossível ignorar o jeito como você me olha quando pensa que não estou vendo.
É tão cruel, sabe? A forma como você me puxa pra perto e depois me solta, como se tudo fosse apenas um devaneio passageiro. Mas importa. Importa pra mim de um jeito que chega a ser injusto. E é essa injustiça que me corrói, porque sei que um dia você vai embora. Você sempre avisou que iria. E eu, como uma tola, fiquei. Acreditei que talvez, só talvez, você mudasse de ideia.
Conto os dias. Cada minuto parece uma despedida antecipada. Já consigo imaginar o vazio que você vai deixar. Você vai voltar pro seu passado, pra sua zona segura, e eu vou ficar aqui, tentando reconstruir os pedaços de algo que nunca foi inteiro. Tentando entender como algo tão incompleto pode doer tanto.
Queria que você soubesse que isso me consome. Que me tira o ar. Que cada vez que você me olha como se fosse ficar, meu coração acredita, mesmo quando minha razão grita pra não fazer isso. Dentro de mim, é como se algo estivesse se partindo. De novo e de novo.
Dizem que seria bom se pudéssemos morar nos começos. Eu me lembro de como éramos lá, no início. Ríamos sem motivo, ficávamos até tarde falando sobre coisas que não importavam, mas, de alguma forma, eram tudo. Seu sorriso era a minha paz, e sua presença fazia o mundo parecer mais suportável. Agora, o peso de sua ausência antecipada me deixa sem ar.
Meu coração está apertado todos os dias. A cada manhã, a angústia é mais forte, o medo mais presente. O medo de que você simplesmente desapareça, de que o “us” que nunca chegou a existir morra antes mesmo de nascer. Porque, no fundo, sei que você não acredita. No amor. Em nós. E isso me rasga por dentro.
Se eu pudesse, construiria uma casa nos começos. Naquele instante suspenso no tempo, onde tudo ainda era possível. Onde a ansiedade era doce, quase promissora. Hoje, restam nove dias. Você vai embora. Não vai olhar para trás. Não vai olhar para mim.
Como eu queria morar nos começos, quando o futuro parecia vasto, cheio de promessas. Quando você dizia que ainda tínhamos tanto para viver juntos. Quando saudade não era um peso, mas uma esperança. Era doce imaginar que, mesmo sem acreditar no amor, você acreditava em mim.
Mas o pior não é o medo. O pior é a esperança. Porque você me deu indícios, pequenos fragmentos de algo que parecia real. Os olhares demorados, as palavras que pareciam escapar sem você querer, os gestos que contradiziam tudo o que você dizia sobre não querer um relacionamento. Foi tudo um jogo cruel ou uma batalha sua contra si mesmo? Eu nunca vou saber. Tudo o que me resta agora são esses nove dias.
Nove dias para aceitar que isso vai acabar. Para fingir que não dói o suficiente para me fazer dobrar ao meio. Faltam nove dias e eu me forço a não esperar mais pelos seus "boa noite" que deixaram de chegar. Tento dizer a mim mesma que você esqueceu, que não foi por mal, mas a verdade sussurra: você já não pensa em mim antes de dormir.
Nove dias e estou aprendendo a dormir sozinha outra vez. Minhas mãos procuram por você no escuro, só para encontrar lençóis frios. Nove dias e me torturo com a imagem de outra pessoa se perdendo no fundo dos seus olhos. Imagino ela jogando a cabeça para trás, rindo, tocando você de um jeito que já foi meu, e sinto como se algo dentro de mim se partisse irreparavelmente.
Nove dias e estou tentando me preparar para a última página da nossa história. Para aceitar que os capítulos que sonhei nunca serão escritos. Que o "nós" que vive tão forte dentro de mim vai se transformar em um "eu", carregando sozinha o peso de tudo que poderia ter sido.
E ainda assim, uma parte de mim quer acreditar. Quer acreditar que, quando chegar o nono dia, você vai olhar para mim e dizer que o amor existe, que ele estava aqui o tempo todo. Mas outra parte sabe que você não vai dizer nada. Que você vai partir. Que eu vou te perder.
Nove dias para te perder. E, ainda assim, todas as noites eu sonho que encontro uma maneira de te fazer ficar.