Ontem, você me disse que somos impossíveis. Que nunca será metade do que acha que eu mereço. E, por mais que eu tente ignorar, suas palavras cortam fundo, como se algo dentro de mim fosse se despedaçando, pouco a pouco. Porque dói. Dói saber que você acredita nisso. Dói ainda mais porque eu não acredito. Você diz que é para o meu bem, como se estivesse me protegendo de você mesmo. Mas eu vejo o que você não diz. Eu sinto. É medo, não é? Medo do que podemos ser. Medo de ser bom demais e, ao mesmo tempo, não ser suficiente. E toda vez que você fala assim, que se coloca tão longe de mim, sinto meu coração congelar um pedaço a mais. Como se você estivesse construindo uma parede entre nós, e eu, teimosa, continuasse batendo de frente, esperando que, em algum momento, você seja honesto comigo. Por que não pode me deixar decidir? Por que não pode apenas acreditar em mim? Eu não quero metades. Eu nunca quis. O que quer que você ache que tem a me oferecer, é isso que eu quero. Todo o caos. Todo o medo. Toda a incerteza. Porque o que há entre nós é maior do que isso, mesmo que você ainda não veja. Então, por favor, não fuja. Não diga que não pode me fazer feliz quando, na verdade, você já faz. Mesmo nos silêncios. Mesmo nas dúvidas. Mesmo agora, enquanto tenta se convencer do contrário. Se eu tenho coragem de te amar assim, com tudo o que somos e tudo o que não somos, por que você não pode tentar?
Eu queria, com tudo que sou, que você não fugisse. Que fosse honesto comigo, pelo menos uma vez. Se quer mentir, então minta direito. Diga que o que sente por mim é apenas fogo, apenas desejo passageiro. Mas você sabe que não pode, não é? Porque eu vejo além das palavras. Eu sinto a verdade nos seus toques, nos seus olhares. Você pode tentar me convencer que seus beijos são vazios, mas eles têm alma. Você pode jurar que os suspiros perto da minha nuca são apenas reflexos, mas eles têm peso, têm verdade.
E aquele olhar... aquele olhar quando eu disse que poderia te amar mesmo sem que você me amasse da mesma maneira e eu assumiria as consequências depois ? Você acha que pode esconder o que está dentro de você, mas os seus olhos... Ah, os seus olhos. Eles te entregam toda vez. Como agora, quando faz amor comigo e me olha de um jeito que nenhuma mentira consegue apagar. É real. Tão real que chega a doer.
E sabe o que mais? Eu vi o medo. Eu o reconheci Não era pena no seu olhar. Era pavor. Porque, lá no fundo, você sabe o que eu já sei: se você não fugisse, se deixasse o medo de lado, seria incrível.
Nós seríamos incríveis.
Pode ser covarde. Se esconder. Correr para bem longe de mim. Voltar para o passado que você insiste em chamar de amor. Mas não é. E você sabe disso.
Eu nunca vou tentar te convencer de que o que temos é mais do que o que você teve com ela. Não preciso. Afinal, nós somos dois meses – dois meses de intensidade, de caos, de tudo o que você não consegue controlar. Ela foi seis anos – seis anos de certezas, de conforto, de algo que não te assusta.
Mas amor? Amor não é o que você deixou para trás. Porque, se fosse, você não estaria aqui agora, dividido entre fugir e ceder ao que sente por mim.
Então, vá. Volte para o que acha que te dá segurança. Para a ilusão de um amor que já não existe. Mas saiba que isso não vai apagar o que somos. Porque, enquanto você tenta se convencer de que é melhor assim, nós sabemos a verdade.
Você não tem medo de me perder. Tem medo de se encontrar em mim.
Mais do que ninguém, sabe. Ainda que não saibamos definir exatamente o que sentimos hoje, nada — absolutamente nada — apagará as marcas que deixamos pelos corredores da sua casa vazia. Nada vai arrancar da sua memória o quanto já fui sua. Os meus gemidos, a entrega absoluta, o calor que fazia nossos corpos queimarem como se o mundo lá fora deixasse de existir. A maneira como te olho, sabendo exatamente quando está à beira do seu ápice, como se cada movimento meu fosse desenhado para te levar até lá.
As mensagens de desejo que trocávamos no início, carregadas de promessas que cumprimos. O meu perfume, impregnado em cada canto da sua casa, como um lembrete constante de que eu estive lá, de que eu fui sua. E os textos que escrevi para você, cada palavra gritando tudo o que ainda não consigo dizer em voz alta. Cada frase carregada do que somos, do que fomos, do que talvez nunca deixaremos de ser.
Escolha fugir. Escolha ela. Escolha o passado que parece tão mais seguro do que o que temos agora. Mas saiba disso: nós existimos. Aqui, no presente. Fomos reais. E, para mim, isso basta. Eu não vou implorar para que fique, nem tentar competir com os fantasmas que você carrega. Mas não finja que o que vivemos foi menos do que tudo. Não finja que não vai se lembrar.
Porque, mesmo que escolha partir, mesmo que escolha um "antes" que não te desafia como o "agora". Nada disso pode ser apagado. Porque, goste ou não, nós somos parte um do outro agora.
Nós somos indeléveis.