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O Destino de Dois Planetas



Quando nos conhecemos, eu soube.

Não foi uma explosão de luzes ou uma epifania mágica, mas algo muito mais profundo. Como se o universo, em sua teimosia silenciosa, finalmente tivesse decidido que era hora. Durante meses, dividimos o mesmo espaço, a mesma cidade, o mesmo prédio. Eu estava ali. Ele estava ali. Mas nossas vidas orbitavam, como dois planetas tão próximos e, ao mesmo tempo, inalcançáveis.

E então aconteceu.

Um dia qualquer, um instante aparentemente banal. Nossos olhares se encontraram. Não foi só química; foi gravidade. Uma força que me puxou, que me fez esquecer o mundo ao redor. Seus olhos pareciam me reconhecer, como se houvesse algo ali que eu mesma desconhecia. Em uma fração de segundo, senti como se tivesse vivido com ele todas as vidas que nunca vivi.

Meu coração disparou, mas não por nervosismo. Foi como encontrar um ritmo certo, familiar e devastador ao mesmo tempo. Diante dele, senti que estava diante de algo inevitável, algo que sempre existiu, esperando o momento certo para ser revelado.

E eu soube. Não podia ser coincidência. Não depois de meses em que nossos caminhos flertaram com o encontro, apenas para falharem. O destino, em sua ironia, parecia saber exatamente o que fazia.

Mas, por algum motivo, parece que apenas eu senti.

Quando você beijou minha mão ao se despedir, um gesto tão simples e cotidiano, foi como se o mundo tivesse parado. Guardei aquele instante como quem protege um segredo precioso. Cada palavra sua, cada sorriso, cada movimento — tudo parecia carregado de significado. Mas talvez, para você, tenha sido apenas mais um momento.

Essa ideia me dilacerou. Como pode algo que me consome ser tão passageiro para você? Por que o que parece um universo inteiro para mim é para você apenas uma brisa leve, que vem e vai sem deixar marcas?

Hoje ouvi alguém dizer que, quando entregamos tudo de uma vez, não sobra nada para depois. Isso ecoou na minha mente. Teria sido isso que aconteceu? Na vontade de te fazer sentir o mesmo, acabei me entregando por completo, sem deixar mistérios? Mas não é verdade. Ainda há partes de mim que você não viu, fragmentos que guardei, esperando que você quisesse descobri-los comigo.

E agora me pergunto: se tudo o que já fiz ou mostrei não foi suficiente para você entender o quanto nós seríamos incríveis juntos, o que mais eu poderia oferecer? Talvez o problema não seja o que eu dei, mas o que você estava disposto a receber.

Ainda assim, não consigo desistir da ideia de que, em algum lugar dentro de você, há algo que reconhece o que temos. Talvez você sinta o mesmo que eu, mas tenha medo de admitir. Porque, para mim, foi real. E eu não sei como seguir em frente sem acreditar que, para você, também foi.

Homens costumam saber exatamente o que querem. Mas você me confunde. Dentro de quatro paredes, me chama de amor com uma intensidade que parece prometer tudo. E eu quase acredito. Mas, quando a porta se fecha, as dúvidas invadem. Será que estou lendo sentimentos onde só existe desejo? Ou será que você simplesmente não sabe como dizer que me quer tanto quanto eu quero você?

Mesmo assim, sei que a culpa não é sua. Você apenas esbarrou em algo que eu achava ter enterrado. Dores antigas, medos que não têm nada a ver com você, mas que você, sem querer, desenterrou.

Ainda assim, sou grata. Por sentir algo tão avassalador que arrancou camadas de mim que eu nem sabia que existiam. Por provar um amor que, mesmo em sua dor, é maior e mais verdadeiro do que qualquer coisa que já experimentei.

E talvez isso seja suficiente. Porque, apesar de tudo, eu continuo acreditando. No amor, no destino e na possibilidade de que, um dia, você também sinta o mesmo.

E até lá, vou carregar essa gratidão comigo. Porque, mesmo sem saber, você me deu algo que ninguém mais conseguiu: a certeza de que amar vale a pena, mesmo quando não é correspondido da mesma forma.

E isso é lindo. Como você.