O amor não existe nesta geração.
Tudo se resume a momentos fugazes, carências vestidas de paixão, desejos mascarados de eternidade. Ele fala isso com uma convicção quase cruel, como se estivesse determinado a apagar qualquer fagulha de esperança antes que ela se torne chama. Mas por ele, eu aceitei acreditar que as coisas efêmeras podem, sim, ter peso.
Por ele, criei uma playlist. Cada música escolhida como uma moldura para lembrar seus traços. Para não esquecer as ruguinhas que aparecem no canto dos olhos quando ele ri de algo bobo ou quando fala algo que, aos seus olhos, é brilhante. Aquelas pequenas marcas que o tempo deixou nele, e que ele talvez odeie, mas que para mim são evidências da sua beleza mais honesta.
Por ele, aprendi quem é Maria. Não porque ele pediu, mas porque precisava de algo maior do que eu para acreditar que ele ficaria bem. Aprendi a rezar o terço, mesmo quando as contas pareciam deslizar pelos meus dedos como areia, porque cada oração era uma súplica. Um pedido mudo para que ele permanecesse inteiro, mesmo quando escolhia viver longe de mim.
E ainda assim, ele insiste que o amor não existe. Mas como posso acreditar nisso, se até as coisas mais simples – uma risada, uma prece, uma música – me levam de volta a ele?
Como diz com tanta convicção que é momento, se por ele eu aprendi cada verso das músicas que ele ama, como se cantar suas letras fosse a chave para abrir o cofre onde ele esconde todas as partes que não quer mostrar. Tatuei no meu corpo uma frase de uma canção do seu cantor favorito, na esperança ingênua de que a tinta pudesse carregar meu amor para mais perto de um coração que ele insiste em dizer que não sabe amar.
Comprei um perfume, não porque gosto dele, mas porque imaginei que, ao senti-lo, ele lembraria de mim em cada suspiro. E assim, cada vez que fecho os olhos, sinto o mesmo aroma e me prendo à ilusão de que ele também pensa em mim.
Aprendi a decifrar o silêncio dele – aquele silêncio tão intenso que parece calmo por fora, mas carrega um oceano inteiro de tempestades por dentro. Por ele, desaprendi quem eu era antes de conhecê-lo. Deixei de lado meus limites, me perdi nas infinitas possibilidades de tentar ser tudo o que ele não sabia que precisava.
Ele diz que o amor não existe. Ele acredita nisso como quem acredita que a terra é plana – uma certeza absurda que me parte ao meio. Mas eu dediquei a ele as canções mais belas e os textos mais sinceros que já escrevi, desejando que, de alguma forma, eles se transformassem nas lembranças mais preciosas da sua vida.
Como o amor pode não existir nesta geração, se um único olhar dele é suficiente para me fazer arder inteira? Como pode ser só um momento passageiro, se a simples ideia de viver sem ele me faz cair de joelhos no chuveiro, enquanto a água tenta, inutilmente, apagar as lágrimas que não param de cair?
Nós nos conhecemos há pouco tempo.
Um período de tempo que, para qualquer outra pessoa, seria insignificante. Mas, para mim, é o suficiente para transformar meu mundo inteiro. Ele é o epicentro de cada palavra que ouso escrever.
Como posso acreditar que o amor não existe, se este blog nasceu porque ele entrou na minha vida? Não, não é sobre acreditar ou não acreditar. É sobre o vazio que ele carrega no peito, uma ausência tão palpável que quase ouço o som da sua dor quando ele respira.
Talvez o amor seja como um quarto escuro onde ele nunca teve coragem de entrar. Talvez ele tenha medo, medo do que poderia encontrar ali – medo do que já perdeu ou do que nunca soube como segurar. Talvez, no fundo, ele saiba que ser amado significa se despir de todas as barreiras, e isso é algo que ele ainda não está pronto para enfrentar.
O mais cruel é que ele nunca precisou dizer que não acreditava no amor. Eu senti isso no modo como ele se afasta dos silêncios que poderiam desnudar sua alma. É um medo que não grita, mas sussurra, que o prende à superfície de tudo, evitando mergulhar na profundidade que o cerca. Ele teme a intensidade que pulsa ao seu redor, aquilo que ele não consegue nomear, mas que se revela em cada olhar que finge não ser notado.
E, ainda assim, eu fiquei. Fiquei porque, mesmo sabendo que o amor é o que ele mais teme, ele se tornou a única coisa que eu mais desejo. Ele é um paradoxo – a luz e a sombra, o anseio e a distância. E eu me perdi completamente nessa dualidade.
Essa conexão – visceral, arrebatadora – transcende qualquer definição de amor. Talvez nem seja amor, talvez seja algo além, algo tão profundo que nenhum vocabulário jamais será suficiente para traduzi-lo. Mas não importa o nome que tenha. É real. É nosso. Mesmo que ele nunca o reconheça, mesmo que nunca leia isso.
E quero que ele saiba, ainda que jamais o ouça: por mais que ele não acredite, eu acreditei o suficiente por nós dois.