Eu não te perdi em nove dias.
Você não foi embora. Não sei se por falta de oportunidade ou por escolha — mas, por Deus, espero que tenha sido escolha.
Eu tinha certeza de que te perderia até o dia 1. Era uma contagem regressiva cruel, um pensamento tão constante que pulsava dentro de mim, a cada segundo, como uma ampulheta invertida. Mas ontem... Ontem você me viu. E naquele instante, tudo mudou.
Seus olhos castanhos ainda queimam. Não o tipo de fogo que destrói, mas o que aquece, o que dá vida ao que toca. Era o mesmo olhar de antes, da primeira vez que nossos mundos colidiram. Era o mesmo impacto. Como se o universo tivesse parado para me dizer: não esqueça.
E então, à noite, nós nos encontramos. Não foi só carne. Foi alma. Foi cada pedaço do que eu sou buscando se encaixar no que você é. Cada toque, cada movimento era como uma promessa silenciosa de que, por mais que tudo estivesse despedaçado, ainda havia algo ali. Algo que valia a pena salvar.
Foi desesperador e arrebatador. Foi como se estivéssemos costurando todas as lacunas que nos separaram, alinhavando com os fios da esperança que eu pensei ter perdido. Pela primeira vez em tanto tempo, eu senti que podíamos recomeçar. Juntos.
Eu me lembro do momento exato em que me apaixonei por você. Você estava sentado, afastado de tudo, mas ainda assim dominava o ambiente. Seu sorriso iluminava a conversa que tinha com os outros, mas, para mim, parecia que o mundo inteiro tinha ficado em silêncio. Como se ele soubesse que eu precisava de um instante só seu.
E eu fiquei. Presa em você.
Os detalhes me marcaram como fogo em pele nua. A camisa preta moldando seu corpo, a calça jeans que parecia feita sob medida. E aquele jeito quase despretensioso de levar o copo de uísque aos lábios... Foi o golpe final. Quando você ergueu o olhar, mesmo que por acaso, fui atravessada. Seus olhos — tão castanhos quanto o café forte e tão frios quanto uma tempestade inesperada — congelaram tudo dentro de mim.
E, de repente, você estava lá. Em cada pensamento. Em cada segundo roubado.
Por meses, cruzamos os mesmos corredores. Tão perto e, ao mesmo tempo, inalcançáveis. Mas naquele dia, naquele único olhar, algo em mim mudou. Eu soube que nunca mais seria a mesma.
E agora você é isso. O calor que me consome. O frio que me desafia. A certeza de que, mesmo que o mundo desmorone, eu ainda vou escolher olhar para você.
Toda vez que você compartilha suas inseguranças, é como se abrisse uma porta secreta, me deixando entrar no lugar mais íntimo de você. E cada detalhe seu, por mais mundano que seja, me faz te amar ainda mais. O jeito que mexe no cabelo, distraído, quando está prestes a mergulhar em uma história; o sorriso que você dá sem perceber; até a forma como se ajeita na cama, me puxando para mais perto, como se o seu corpo soubesse que ali é o meu lugar.
Você é meu refúgio. Meu lar.
E por mais que eu tenha jurado que não sentiria nada — que nós seríamos apenas acaso, um sopro no vento —, eu fracassei. Miseravelmente. Porque amar você não é difícil. Amar você é inevitável.
Você carrega um escudo, uma armadura que tenta esconder o caos que é. Mas eu vejo além. Eu vejo o garoto que se isola num canto fingindo que não precisa de ninguém. Vejo o homem que carrega o mundo nas costas e, às vezes, desaba. Vejo você em cada palavra, cada silêncio, cada sorriso tímido que escapa quando menos espera.
Você é um enigma. Um caos bonito. Uma tempestade que destrói e renova.
E por mais que você tente fugir, por mais que o mundo me diga que estou errada, eu sei. Ontem, nos seus olhos, vi algo que nem você conseguiu esconder. Uma verdade que queimava tanto quanto o fogo que nos uniu: você ainda é meu.
E Deus sabe... eu ainda sou sua.