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Ela, Horizonte de Contradições - Ella B





Ela era barulhenta. E não do jeito incômodo — do tipo que te faz sorrir no meio do silêncio. Era como uma música alta estourando no rádio quando você não espera. Como um trovão no céu claro, que chega sem pedir licença.

Ela tinha aquele tipo raro de presença que deixava marcas: risadas que vinham no meio de conversas sérias, o gosto gelado do café em dias escaldantes, uma chuva que caía mesmo com o sol brilhando. Inexplicável. Meio confusa. Totalmente irresistível.

Você não a entendia de primeira. Nem de segunda. Ela era o tipo de pessoa que confundia, mas também fascinava. Um musical inteiro — e não desses moderninhos, mas um daqueles que fazem você rir, chorar e se perguntar se não deveria ligar pra sua terapeuta no fim.

Ela misturava o caos de um show de rock com o aconchego de uma playlist de MPB. Podia fazer seu coração dançar com um samba ou quebrar com um sertanejo. Uma dualidade ambulante. E, ainda assim, nada nela parecia forçado.

Ela não era só uma noite quente que você lembraria por um tempo. Ela era o cheiro de cabelo recém-lavado, o brilho das lágrimas que vinham quando ninguém esperava. Era aquele tipo de abraço que você não quer soltar, mesmo quando já devia ter ido embora.

Conversava como quem tenta vencer uma corrida contra o próprio pensamento — rápido, intenso, atropelando palavras. Dava mil beijinhos entre um suspiro e outro. E deixava perfume no ar, mesmo depois de ter partido.

Ela chorava com desenhos animados. E não, não era só emoção — era empatia. Era conexão. Era intensidade. Cada nota da trilha sonora da vida dela tinha um propósito, uma dor, uma alegria.

Se fosse uma personagem, seria daquelas que Jane Austen escreveria só pra provar que delicadeza não significa fraqueza. Que a força mais bonita é a que ninguém vê chegando.

Ela fazia você rir até doer a barriga, mas também te desmontava com um toque. Com palavras que criavam pontes onde só havia abismos.

Mas tinha algo ali. Algo que escapava de qualquer explicação. Como um bom gole de whiskey: queimava, marcava, e deixava você querendo mais. Ela era piadas ruins, inseguranças profundas e uma coragem que ninguém percebia — porque, no fundo, ela mesma não se dava crédito.

Ela era suco de laranja sem açúcar — verdadeiro. Nada de disfarces. Nada de adoçantes. Era crua, imperfeita, linda. Daquelas que você só entende depois de provar mais de uma vez.

Ela era furacão e calmaria. Mar e abrigo. Um livro ainda sendo escrito, com páginas ansiosas por alguém que não tivesse medo de ler até o fim.

Ela não era só sobre desejos. Ela era sobre profundidade. Sobre o tipo de amor que não se contenta com raso.

Era o beijo roubado no pior momento — mas no exato instante em que você mais precisava. O abraço que te segurava no meio da tempestade mental.

E, mesmo com tudo isso, ninguém via. Ou melhor — ninguém ousava ver. Porque enxergá-la de verdade exigia mais do que olhos: exigia coragem. Ela carregava um universo inteiro no peito, implorando em silêncio pra ser descoberto.

Ela queria mais. Queria ser sentida. Queria alguém que tivesse paciência de decifrar os códigos, desatar os nós e mergulhar sem medo nas partes mais frágeis.

Porque ela não era só pele ou desejo. Era caos e poesia. Tempestade e respiro. Um quebra-cabeça bagunçado, mas lindo, esperando alguém que tivesse tempo — e coragem — pra tentar montar.

E, ainda assim, mesmo cheia de dúvidas, ela acreditava. Que talvez, em algum momento, alguém aparecesse. Com olhos que não só olhassem, mas vissem.