Querido Augusto.
Essa semana, te mandei duas mensagens e apaguei. Fiquei esperando que, talvez, você percebesse. Que sentisse minha presença no vazio que deixei. Que tentasse ler antes que elas desaparecessem. Mas você não se deu ao trabalho de abrir nenhuma.
Uma delas era só saudade. A outra, um pedido de socorro.
Ainda é o seu nome que aparece quando eu preciso de ajuda. Seu número continua salvo como minha ligação de emergência. Mas agora, temo que, se um dia eu realmente precisar, você não atenda. Que veja meu nome na tela e escolha ignorar.
No fim, eu me virei. Sobrevivi. Mas não sem antes sentir o pânico escalando pela minha garganta como dedos invisíveis tentando me sufocar. Não sem antes me perguntar se tudo teria sido diferente se você ainda estivesse aqui.
Mas o pior? Não foi o medo. Não foi a angústia. Foi a ausência. Foi a constatação de que, nos meus fins de semana, você sempre foi a melhor parte. E agora, todos os dias seguem em frente sem você. Todos continuam... menos eu.
Domingo...
Decidi que não vou mais beber. Não só pela Quaresma, não por um tempo. Não vou mais beber, ponto.
Parece que só penso em você quando estou bêbada, porque é sempre nessas horas que te mando mensagem. Mas a verdade é que penso em você o tempo todo. A diferença é que, sóbria, me falta coragem para admitir isso. O álcool me dá esse empurrão – essa ousadia covarde –, mas de que adianta essa coragem se ela não te traz de volta? Se no dia seguinte, quando a ressaca vem, o vazio ainda está aqui?
Então, eu decidi parar. Porque, no fundo, eu sei que tudo o que tenho feito tem sido uma forma de me destruir aos poucos. Mas nada disso vai te fazer voltar. Nada disso vai fazer você ficar.
E eu não posso morrer.
Porque, por mais que minha dor me sufoque, por mais que, às vezes, eu sinta que estou me afogando, há alguém que precisa de mim para continuar respirando. E, por ele, eu preciso sobreviver a isso.
Mesmo sem você.
Então, agora é oficial: não bebo mais.
Também removi seu número dos meus contatos de emergência. Parece simbólico, mas, por algum motivo, isso pesou mais do que eu esperava. Talvez porque, no fundo, ainda era uma forma de te manter por perto. De acreditar que, se um dia eu precisasse, você estaria lá.
Prometo que, aos poucos, minha cabeça vai aprender a guardar você apenas na memória, do jeito que você quer. Ainda não tive coragem de apagar nossas conversas. Mas acho que, em breve, conseguirei.
Pelo menos, é o que eu espero.
Acho que você não quer saber, mas Jesus me encontrou.
Eu o senti.
Ele sabe que só restaram migalhas de mim, mas, mesmo assim, Ele me quer. Me acolhe. Como se dissesse que, mesmo despedaçada, ainda sou digna de ser amada.
Vou continuar na terapia, porque sei que a dor não some de um dia para o outro. Mas acho que, com Ele, a cura pode vir mais rápido. Ou, pelo menos, menos solitária.
De qualquer forma, me perdoe por não conseguir ir embora de uma vez.
O que aconteceu entre a gente foi devastador pra mim. Acho que quebrou o pouco que ainda restava de mim inteira. Então, preciso de tempo. Tempo para aceitar que você não vai voltar. Para entender, de verdade, que o “nós” que eu queria tanto já não existe mais.
Eu espero que você esteja bem. Feliz. Saudável.
Sinto sua falta em cada segundo de cada dia. E amo você. Com todas as suas imperfeições. Com tudo o que você é. E, talvez, com tudo o que você nunca quis ser pra mim.
Com amor,
Seu bem,
Vica