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Cartas a um amor que ainda não encontrei ou não me encontrou. - Ella B


Leia ouvindo : From the start - Laufey

Dizem que a gente sabe quando é amor. Que o coração dispara, o tempo desacelera, e tudo ao redor ganha um novo brilho. Mas ninguém conta como é amar antes de encontrar. Como é viver com a falta de alguém que nunca chegou. Como é carregar um espaço vazio dentro do peito, feito sob medida pra um estranho que ainda não conhece seu nome — mas que, de algum jeito, já mora em você.

Talvez pareça loucura. Talvez seja mesmo.
Mas eu sei o que eu sinto. E mesmo que o mundo duvide, eu acredito nesse cara.
Nesse amor que ainda não me encontrou.
E hoje… pela primeira vez, eu resolvi escrever pra ele.


Minha terapeuta disse pra eu escrever sobre o homem dos meus sonhos. Tipo exercício de autoconhecimento. Eu ri. Quase fiz uma piada. Mas aqui estou, encarando uma folha em branco e ouvindo Ordinary, do Alex Warren, como se isso fosse me salvar da avalanche que começa no peito.

Eu nunca conheci esse cara. Mas ele vive em mim, de um jeito meio invisível, como cheiro de chuva antes da tempestade. Como uma ideia que nunca foi real, mas insiste em ficar.

Eu quero um cara que me ache foda. Sem colocar em pedestal, sem drama. Só... alguém que olhe pra mim e pense: “Caramba, que sorte a minha.”
Quero jantar espontâneo numa terça qualquer, beijo roubado no mercado, e presentes sem data porque sim — porque o coração dele pediu.

Quero um cara que se lembre do meu aniversário, não porque o Facebook avisou, mas porque ele sabe. Porque ele entende que isso importa pra mim. Alguém que me ouça. Que pergunte do meu dia e realmente queira saber. Que ria das minhas histórias e celebre minhas vitórias, mesmo que seja só conseguir estacionar de ré sem subir na calçada.

Quero alguém que veja a mulher que existe além da mãe. Que me deseje por quem eu sou — não só o que vê, mas o que sente. Que leia meus textos e responda minhas mensagens, mesmo quando mando dez seguidas no meio de um surto existencial.

Quero um cara que ache graça da minha risada desajeitada e ache ela linda. Que me leve pra livraria só pra ouvir meu monólogo sobre romances que mudam vidas. Que ache charme na minha bagunça e poesia no meu caos.

Eu quero um cara corajoso. Que abra a porta do carro e também meu coração. Que enfrente os monstros comigo, de mãos dadas, peito aberto. Que dance comigo na sala, vinho na mão, sorriso nos olhos. Que viva a vida com fome. De mim. De nós.

Quero fé. Quero um cara que fale com Deus por mim, nos dias em que eu só consigo chorar. Que me ensine sobre luz mesmo nas noites mais longas. Que seja inteiro, mesmo imperfeito. Alguém que não use máscara, porque sabe que o verdadeiro sempre brilha mais.

E eu quero, acima de tudo, um cara que ame minha filha. Que enxergue nela um universo inteiro. Que não tente ocupar espaços, mas crie novos. Que tire mil fotos nossas só porque ama colecionar momentos — não likes. Que sinta saudade mesmo se a gente se ver de manhã e se despedir à tarde.

Quero um cara que me abrace como se aquele abraço fosse uma armadura. Que me beije devagar, como se fosse segredo. Que fale olhando nos meus olhos, como quem tem tempo. Que escolha a calma, sempre.

Quero simplicidade. Gentileza. Uma alma que traga paz e queira ficar. Que ore por mim em silêncio, que leve meu nome nas preces. Que me veja — inteira — e ainda assim escolha não mudar nada. Que me imagine de noiva, vestida de branco, talvez meio nervosa, mas com aquele sorriso que diz “é ele”.

E se ele existir, espero que não demore.

Porque eu tô aqui. Esperando.

Ella B