Leia ouvindo : Pudim - AMARINA
Fingir que não se importa é mais exaustivo do que admitir que sente falta.
Eu sei, porque eu tentei. Tentei do jeito que a gente tenta tudo que dói, mas parece certo.
Fingir que o carnal era suficiente. Que me fazer de indiferente me protegeria de querer demais.
Eu tentei acreditar que bastava um toque, um suspiro rápido, um "chega mais" na madrugada. Que bastava uma noite, uma conversa rasa, uma troca de olhares intensos pra preencher o buraco que crescia dentro de mim.
Mas não bastava. Nunca bastou.
Falam que leva vinte e um dias para criar um hábito, e eu queria acreditar nisso como quem se agarra numa tábua no meio de um mar revolto.
Vinte e um dias e eu não sentiria mais falta de afeto.
Vinte e um dias e o vazio no peito iria embora.
Vinte e um dias e eu me transformaria naquela garota que não precisa de ninguém, que transa sem se apegar, que beija sem criar laços, que sai no meio da madrugada sem olhar pra trás.
Mentira.
O afeto ainda move tudo.
Ele move quando você está cansada, andando pra casa depois de um dia péssimo, e deseja ter alguém pra dividir o silêncio.
Ele move quando você acorda no meio da noite com vontade de chorar, mas engole o soluço porque não tem onde encostar a cabeça.
Ele move quando você encontra uma música e pensa: "Ele iria gostar dessa", mas lembra que não tem um "ele".
E talvez eu tenha me cansado de não ter um "ele".
Eu achava que química era o que mais importava. Os beijos quentes, as mãos que tremem, o corpo que arrepia ao menor toque. Eu achei que isso era tudo, mas sabe o que acontece depois que a pele esfria e o quarto fica em silêncio?
Você percebe que química sem presença é fogo de palha. Que não adianta ter alguém que te deseja se não tem ninguém que te queira.
Então eu me pergunto: o que importa de verdade?
Importa ter alguém que te queira em todos os detalhes que você não mostra no Instagram.
Alguém que note que você está com os olhos cansados mesmo com maquiagem.
Que mande mensagem perguntando se você chegou bem em casa porque se importa, não porque é educado.
Alguém que sinta saudade de te ouvir rindo por uma besteira que você viu no mercado.
Que pare tudo no meio de uma tarde corrida só pra dizer: “Pensei em você.”
Importa ter alguém que te escolha mesmo quando é difícil gostar de você.
Que planeje um café da manhã no domingo porque sábado à noite não foi suficiente.
Que te veja com o cabelo bagunçado e as olheiras de quem chorou, e ainda assim queira ficar.
Alguém que faça o seu cheiro virar lar. Que encoste a testa na sua e diga: “Eu não vou a lugar nenhum.”
Porque no fim, a gente cansa dessa vida de sentir sem se permitir.
A gente cansa de querer pouco, de aceitar metades, de fingir que não se importa.
A gente cansa de não ser de ninguém.
E tudo bem. Tudo bem querer ser de alguém. Tudo bem querer algo que dure mais que uma noite, mais que um toque, mais que um “fica mais um pouco”.
Tudo bem querer alguém que fique.
Porque o que importa, no final das contas, é ter alguém pra dividir as pequenas vitórias, os dias ruins, os silêncios e os domingos preguiçosos.
Alguém que segure sua mão no meio do supermercado e faça você acreditar que amar ainda vale a pena.
Alguém que faça você perceber que ser vista é diferente de ser olhada.
E que querer amor não te faz fraca, te faz humana.
E eu estou pronta para isso.
Pronta para amar alguém que me ame de volta.
Pronta para ser de alguém.