Arquivo Pessoal: Confissões de Alguém Que Está Tentando se Descobrir (E Talvez Fugir um Pouco Também)
Talvez essa seja a coisa mais estranha que já fiz. Escrever sobre mim.
Não porque eu ache minha vida interessante (spoiler: não é), mas porque, pela primeira vez, alguém me perguntou:
"O que você gosta?"
E eu… travei. Simples assim. Fiquei olhando pra pessoa como se ela tivesse me pedido pra resolver uma equação de física quântica bêbada.
Foi aí que percebi: eu não fazia ideia.
Tudo que eu achava que gostava era reflexo de alguém.
As músicas, os filmes, até os lugares.
E no fundo, eu tava cansada de ser só isso — o que sobrou depois de tentar agradar o mundo inteiro.
Então eu escrevi.
Não pra impressionar ninguém. Não pra te fazer entender.
Escrevi pra mim.
Pra lembrar de quem sou quando ninguém tá olhando.
Porque, às vezes, a gente precisa se apaixonar por si mesma… só pra conseguir partir.
Uma vez você me disse:
"Eu preciso saber das coisas que você gosta."
E eu ri. Aquele tipo de riso que não tem graça nenhuma, só ecoa. Seco. Vazio.
Porque a real é que… eu não sabia. Não mesmo.
Eu era um Frankenstein emocional montado com pedaços dos outros. Gostos emprestados, opiniões recicladas, sonhos que vieram de alguém que eu achei interessante o suficiente pra copiar.
Mas eu tô tentando mudar isso. De verdade.
Então, se for pra falar de mim — de quem eu sou sem filtro, sem performance, sem roteiro — talvez seja mais ou menos assim:
Eu sou o caos vestindo calmaria como disfarce. Sou aquela pessoa que ama domingos ensolarados, mas já começa a sentir a ansiedade da segunda antes mesmo do sol se pôr.
Sou viciada em energético e livros que quebram meu coração com classe.
Amo histórias – vividas, inventadas, sonhadas.
Amo dias de chuva porque eles me autorizam a ser introspectiva sem parecer maluca.
E silêncio. Ah, silêncio confortável pra mim é quase declaração de amor.
Músicas são meu oxigênio.
Caixa de som ligada? Sempre.
Gosto de sentir que minha vida tem trilha sonora, até quando tudo tá dando errado.
E não, não gosto de cafuné, mas um toque certo no lugar certo pode me desmontar inteira.
É coisa de pele. É como se, por um instante, o mundo todo desaparecesse e só ficasse aquele gesto.
Eu sou fã do previsível.
Peço o mesmo lanche há anos, e não é por preguiça — é autodefesa.
Decepção demais por me arriscar no cardápio errado.
Talvez eu tenha aprendido cedo demais que esperar o pior é uma forma torta de manter o coração inteiro.
Não gosto de doces, mas abro exceção pra Alpino e chocolate branco.
Sou puro contraste. Um caos com manual.
Falo muito porque se eu não verbalizar o que penso, explode aqui dentro.
Escrever me salva. Ler me escapa.
Choro escondida porque minhas lágrimas têm orgulho demais pra aparecer em público.
Sou sensível e teimosa. Tímida e falante. Um paradoxo ambulante que ainda tá tentando entender como funciona.
Amo surpresas, mas odeio flores (com exceção de tulipas, porque ninguém é 100% coerente).
Rir é minha língua materna.
Beijos no pescoço? Derrota instantânea.
Olhares demorados? Meu ponto fraco número dois.
Presentes? Só se forem úteis. Tipo, me mostra que me ouviu, que prestou atenção. Aí sim, você ganhou pontos.
Sou a extrovertida mais envergonhada que você já conheceu.
Me escondo em multidões, mas, quando confio… viro abraço, palavra, cuidado.
Me entrego. Me importo. Me coloco.
Às vezes demais.
Gosto de dançar, de conversar por horas, de lavar o cabelo ouvindo Anavitória.
Me sinto em paz na igreja e bêbada de riso num stand-up.
Amo orquestras e aquele tipo de vinho que parece ter nome de cor.
Me encanto com o amor que demora, que vem devagar, que se constrói.
Não acredito em paixão relâmpago que promete o mundo num dia e desaparece no outro. Já tive umas dessas. Tô curada.
E sabe por que eu tô escrevendo tudo isso?
Porque eu preciso ir.
Preciso sair de mim pra finalmente entrar em mim mesma.
Me lembrar de tudo que sou, pra não aceitar ser menos.
Preciso me apaixonar por mim... só pra conseguir te deixar.
Porque o amor que eu quero — o amor que eu mereço — não me diminui.
E mesmo que doa, mesmo que o seu riso ainda ecoe na minha cabeça, eu tô indo.
Porque dessa vez, quem eu escolho…
Sou eu.
Ella B.