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A Melodia Silenciosa da Solidão



Eu tinha 17 anos. Deitada na cama, olhando para o céu pela janela, senti as lágrimas queimarem meu rosto enquanto caíam. Meu peito se apertava como se algo estivesse sendo arrancado de dentro de mim, e eu chorava com a força de quem tenta segurar o que já não existe. Sempre tive um medo profundo da solidão. Ela não era apenas uma sombra. Era um monstro com garras afiadas que rasgava minha pele e sussurrava em meu ouvido que eu nunca seria suficiente.
Por esse medo, eu teria aceitado qualquer coisa. Um pedaço de amor, migalhas de atenção, mesmo que viessem embrulhadas em dor. Eu me agarrava a isso porque era melhor que o vazio. Mas a solidão tem sua própria crueldade. Ela não apenas dói. Ela corrói. Queima como ácido, escorrendo lentamente pelas rachaduras da alma.
Passei anos tentando me moldar a vidas que nunca foram minhas. Despedaçando-me em fragmentos para caber nos outros, como se isso pudesse me fazer inteira. E agora, aos 24 anos, sentada diante de mais uma janela, sinto o nó na garganta, tão apertado que sufoca até os pensamentos. Seguro as lágrimas, mas o peso delas me arrasta. Porque, no fundo, eu sei: a solidão é implacável, mas viver tentando ocupar espaços onde nunca fui feita para estar é ainda pior. É como empurrar uma peça errada em um quebra-cabeça ela nunca encaixa, nunca pertence, e ainda assim te deixa marcada pelo esforço de tentar.
Mas e se eu chorar? Será que a solidão vai se cansar de mim e partir?
Estou tentando, com tudo que tenho, aprender a me amar. Me apaixonar pela pessoa que vejo no espelho. Mas, Deus, como isso é difícil. É como se cada reflexo sussurrasse que o problema sou eu. Que talvez seja por minha causa que as pessoas sempre escolhem ir embora. E, no fundo, essa dúvida me rasga mais do que qualquer despedida.
Aos 17, meu melhor amigo costumava dizer: “Calma, você só tem 17 anos.” De alguma forma, aquelas palavras sempre soavam como um abraço no meio do caos, uma âncora para uma alma que já se perdia tão cedo. Mas agora ele se foi. Não está mais aqui para me lembrar que a idade não importa. Que ser divorciada, mãe, e ter a alma inquieta não me torna menos digna de amor. E sem ele, sem aquela voz que me segurava, como posso convencer a mim mesma disso? Como posso acreditar sozinha que ainda mereço ser inteira?
Quero chorar porque estou exausta. Exausta de provar que sou mais do que noites de prazer, mais do que um coração ansioso para agradar. Cansada de invadir a vida das pessoas com essa avalanche de sentimentos que sou, esperando que alguém fique, mas sabendo que, no fundo, ninguém está pronto para suportar essa tempestade.
Então escrevo. Aqui, neste papel, eu grito sem som, desaguo tudo o que sufoca.
E acho que é agora que as lágrimas vêm. Porque dói. Porque segurar essa dor é como apertar um espinho com as próprias mãos. Choro porque preciso soltar. Deixar ir. Talvez – só talvez – o vento gelado que atravessa a janela leve com ele uma lasca dessa dor, uma fração dessa solidão que parece nunca me abandonar.
Mas, no fundo, eu já era sozinha. Mesmo com você aqui, a solidão já me habitava. E agora, sem você, ela apenas voltou a ocupar todo o espaço. Suas mensagens não chegam mais. Não como antes. Não com o mesmo calor.
E eu? Eu continuarei aqui. Escrevendo. Chorando. Tentando juntar os pedaços que você deixou espalhados. E talvez só talvez  um dia eu aprenda que posso ser inteira, mesmo sendo só eu.