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Ode à Ruína de Nós Dois

Ó doce tormento, cruel e arrebatador, que nos consome na febre do desejo! Somos dois errantes, desalmados pelo amor, entrelaçados não pelo afeto eterno, mas pelo fogo efêmero da carne.

Quando nos encontramos, não é apenas corpo contra corpo é alma clamando em agonia, é guerra travada entre lençóis, onde a paz só existe no exato momento em que o prazer nos toma e nos faz esquecer quem somos.

Mas, ai de nós! O tempo não perdoa, e a ilusão da eternidade se desfaz ao amanhecer.

Pois nunca fomos um do outro, ainda que nossos corpos mintam com fervor.

Eu almejo o mundo, desejo a liberdade, anseio por um legado que ecoe além da mortalidade. Mas, acima de tudo, quero um amor.

Um amor que me despoje do medo e me vista de coragem.
Um amor que seja farol nas noites tempestuosas.
Um amor que se sustente não apenas no calor da pele, mas na promessa eterna dos olhares.

Mas ele… ele deseja a grandeza.

Busca o firmamento e o domínio do tempo, quer seu nome esculpido nos mármores da história, entoado como prece pelos lábios do futuro. Ele anseia pelo brilho da glória, mas ignora o fulgor mais singelo e sincero que reside na ternura de um toque.

E eu?

Eu sou nada, sou sombra no seu horizonte de conquistas.

Oh, mas que cruel ironia! Pois mesmo não sendo sua escolha, sou sua perdição. Pois quando juntos, o mundo se dissolve em um sussurro e nada mais importa nem as coroas que ele almeja, nem os sonhos que me embalam.

A química que nos une é maldição e milagre, um feitiço profano que nos condena a nos perder toda vez que nos encontramos.

A cama dele é altar, onde nos prostramos como pecadores, buscando redenção no calor da carne.

Mas ai de nós!

Altar não é lar.
Desejo não é amor.
Química não é salvação.

E assim, me pergunto, noite após noite: até quando sangraremos por um amor que nunca ousamos viver?