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Nota Fiscal do Amor: Aguardando Emissão - Ella B.

Às vezes a gente se apaixona primeiro pela ideia... e depois torce pra pessoa dar conta da expectativa."
— Notas de uma geminiana que sente demais, pensa dobrado e finge controle absoluto sobre tudo (inclusive o coração).

Domingo. Aquele dia da semana que parece um intervalo entre a realidade e o devaneio. O dia em que até minha lua em Capricórnio tira folga do autocontrole, meu ascendente em Virgem suspende os protocolos emocionais e minha alma geminiana decide escrever uma carta — pra você.

Você, que ainda não tem nome, nem cheiro, nem arroba no Instagram. Mas que, misteriosamente, já mora nas entrelinhas das minhas playlists melancólicas e nos cenários dramáticos que crio na minha cabeça enquanto lavo a louça (porque, sim, até meu romantismo é multitarefa).

Essa é a minha carta para o quase. O talvez. O “ainda não, mas tomara que sim”.
Um texto sobre o caos delicadamente roteirizado de imaginar um amor antes dele acontecer — com toques de sarcasmo, introspecção e um vinho bem escolhido.

Então senta, respira e lê devagar.
Vai que, no fim das contas, essa carta era mesmo pra você.


Leia ouvindo : This Will be - Natalie Cole


Ok. Vamos lá.

É domingo. O dia mais dramático da semana, oficialmente reconhecido como o “gatilho universal da carência afetiva”.

Deveria estar atualizando minhas metas da semana ou reorganizando os ternos por cor, mas não. Estou aqui, escrevendo uma carta para um homem que... bem, tecnicamente não existe. Ainda.

Talvez você esteja atrasado. Talvez tenha pegado um caminho mais longo. Talvez esteja parado em algum posto de gasolina, sem saber que alguém já está pensando em você — e sim, sou eu. A mulher com a mente mais superpopulada da história da introspecção romântica.

E olha, eu tentei. Eu tentei de verdade ser a garota que não se importa. Foco no trabalho, metas pessoais, leitura noturna, check-ins emocionais. Mas tem algo em mim — talvez a parte geminiana impulsiva, talvez a terapeuta que planto na minha cabeça — que me convence a escrever pra você. Esse você que mora na minha imaginação e, ainda assim, tem o poder de bagunçar minha rotina cuidadosamente calculada.

Você já existe, mesmo que não oficialmente. Mesmo que ainda não tenha se materializado com seus traços bonitos, suas falas inteligentes e seu jeito completamente irritante de dobrar as mangas da camisa. Eu já consigo imaginar você me olhando como se estivesse tentando resolver um enigma complicado — e, spoiler, eu sou mesmo.

Hoje ouvi uma música qualquer — dessas que ficam tocando em loja de conveniência — e, do nada, eu estava chorando. Sério. Por quê? Nem sei. Talvez porque me deu saudade de uma lembrança que eu nem vivi. Um tipo de déjà vu emocional. Eu sei, parece maluquice.

Mas por um instante, eu juro que você existiu.

A psicóloga disse: “Escreva sobre o homem que você quer.” E eu escrevi. Um monte de baboseira sensata sobre estabilidade emocional, conversas maduras, amor tranquilo, blá blá blá. Coisas que só parecem boas até a gente lembrar que também quer risada no meio do beijo, briga besta por quem comeu o último pedaço de pizza , e alguém que saiba quando calar a boca… e quando provocar só por diversão.

A real? Eu escrevi sobre um cara que faz sentido no papel, mas não no meu coração. Porque no fundo — e isso é difícil de admitir — eu quero alguém que me desconcerte. Que me faça rir quando eu estiver bufando. Que saiba que meu silêncio geralmente é só o intervalo antes de eu começar a falar sem parar por 40 minutos.

Você. O você que ainda não tem CPF, nem arroba no Instagram, mas já mora num triplex no meu subconsciente. Segundo o tarot — e três sinais do universo que decidi interpretar como confirmação — você chega logo. Se não chegar, azar o seu. Vai perder um baita enredo. Então assim... relógio tá correndo, tá?

E não é que eu esteja esperando alguém perfeito. Na verdade, tomara que você não seja. Só quero que saiba dançar no meu caos. Tipo, se eu te contar que mudei de ideia cinco vezes em uma hora, você vai rir. E não vai achar isso “confuso” — vai achar fofo. Porque é. Eu sou.

A verdade é que eu estava fugindo. De mim, do que eu queria de verdade. Me escondendo atrás de uma ideia genérica de amor, porque me apaixonar de verdade parecia arriscado demais.

E aqui estou. Escrevendo pra você. Você que talvez nem exista — ou talvez já esteja por aí, fazendo qualquer coisa idiota como escolher batatas no mercado, sem saber que está prestes a trombar comigo (literalmente, espero que não. Odeio tropeçar em estranhos).

Sabe, eu sempre achei que era independente demais pra esse tipo de coisa. Amor? Era algo que eu dizia não precisar. Tipo detox de açúcar: boa ideia na teoria, péssima na prática. Mas então você começa a perceber que toda essa pose de "não me importo" é só... cansaço. Medo com glitter.

Eu me fechei tanto que esqueci como é bom imaginar alguém segurando sua mão, olhando nos seus olhos e dizendo “você me ferra completamente — e eu gosto disso.”

Eu não quero um príncipe. Quero alguém que ria das minhas piadas ruins, que discuta comigo sobre séries e depois me beije só pra me calar. Quero alguém que me deseje mesmo quando eu estiver de moletom e rabo de cavalo, e que saiba exatamente o que dizer quando o mundo parecer desabar.

Quero você.

Quero que você me veja em dias bons, mas principalmente nos ruins — tipo quando eu tô sensível e faço drama por você não responder "bom dia" com emoji.

Você vai me entender no olhar. E nas mensagens de 3 parágrafos sem pontuação. Vai saber que quando eu digo “tudo bem” com ponto final, na real, não tá. E vai saber o que fazer com isso. (Mais spoiler: me abraça e traz vinho.)

Quero que você me escute. Tipo, de verdade. Mesmo quando eu estiver falando que sonhei que você traiu a versão imaginária de mim mesma, e agora estou com ranço de você na vida real. Você vai rir, vai pedir desculpas pro meu eu onírico, e me dar um beijo só pra garantir.

Mesmo sem saber seu nome. Mesmo sem saber se você prefere café ou chá, ou se você vai rir porque eu durmo de boca aberta (sim. Deal with it). Mesmo sem saber se você vai ser o tipo que vai chorar ao me ver vestida de noiva — ou se vai fingir que está com cisco no olho, porque acha que lágrimas comprometem sua masculinidade.

Quero você, não porque preciso. Mas porque quero. Porque no meio desse caos, você vai ser a única coisa que faz sentido.

E quando você chegar — e eu sei que vai — eu vou saber. Porque tudo vai encaixar. Como se o quebra-cabeça finalmente tivesse sua última peça. E não, não vai ser perfeito. Vai ter discussões por motivos idiotas, TPM, louça acumulada e aquela sua mania irritante de deixar a toalha molhada em cima da cama (você vai fazer isso, eu sei).

Mas vai ser real. Vai ser nosso. E isso vai ser mais do que suficiente.

Até lá, vou ficando aqui. Escrevendo. Esperando. Rindo de mim mesma por ser uma romântica secreta metida a durona. Mas torcendo pra, daqui quatro semanas, você aparecer.

E, por favor, traga flores. Ou vinho. Vinho seria incrível.

Ps : E se não trouxer vinho, tudo bem — mas espero que saiba lidar com uma geminiana em modo espera: imprevisível, romântica, e levemente alcoolizada.


-Ella B