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Felicidade essa vagabunda volúvel - Ella Belizzato

A vida não para. Não importa se você tá chorando no chão do banheiro ou encarando o teto como se ele fosse te devolver alguma resposta. O mundo gira, os boletos vencem, os bebês nascem e os velórios continuam a acontecer. A garçonete serve o mesmo café requentado pra estranhos que também fingem estar bem, e ninguém liga que você se sente sozinha. Spoiler: ninguém nunca ligou de verdade.

Não tem trilha sonora, não tem câmera lenta. A solidão chega sem avisar e sem flores. Ela se instala como um ex mal resolvido: silenciosa, pegajosa e cheia de razão.

A gente cresce achando que vai viver um amor cinematográfico. Que alguém vai entrar na nossa vida com cara de “bad boy reformado” e dizer com aquele sorrisinho torto: “eu escolhi você”. Que a gente vai se encaixar no peito de alguém e, magicamente, todos os nossos traumas vão se dissolver feito açúcar no café quente.

Mas a realidade?
O amor não é um mocinho de comédia romântica.
Ele some, bloqueia, visualiza e não responde.
Ele diz “você é incrível” e some como se isso fosse consolo suficiente.

E a gente?
Fica lá. Sentada. Esperando um final feliz que ninguém prometeu.

A verdade é essa:
A gente coloca energia demais tentando encontrar alguém que fique.
Idealiza alguém que só existe na nossa cabeça — e em fanfics mal escritas.
Torce pra que alguém veja a bagunça que somos e ainda assim escolha entrar, tirar o sapato e dizer “eu gosto desse caos”.
Mas quase sempre, o que acontece é o contrário: a porta bate, e a gente fica sozinha, com a sensação de ter exagerado de novo.

Só que aqui vai uma coisa que ninguém te contou — e que eu mesma demorei pra entender:
Você não é só alguém esperando ser escolhida.
Você é o prêmio.
O evento.
O fucking plot twist.

Você é o dia de sorte de alguém.
Mesmo que esse alguém ainda não tenha te encontrado.
Ou pior: mesmo que ele já tenha encontrado e sido burro o suficiente pra ir embora.

Dá saudade?
Óbvio.
De um peito onde dormir, de um “te amo” que não soe como script, de uma presença que não desapareça quando você baixa a guarda.
Mas a saudade também ensina. Ela é a prova de que você sente. E sentir é um privilégio.

Você acordou.
Tá com saúde.
Tem os dentes no lugar, o coração só levemente estragado, os pais ainda vivos (ou a saudade deles te fazendo lembrar que você veio de alguma ternura), e um trampo que — ok — pode não ser o dos sonhos, mas paga o vinho do fim de semana.

A vida não precisa ser um episódio de série romântica pra ser boa.
Ela só precisa ser vivida com verdade. Com coragem. Com você dizendo pra si mesma no espelho:
“Eu sou o caralho do pacote completo.”

Agora são 17h53 de uma terça-feira aleatória e eu tô aqui, escrevendo isso sem saber exatamente por quê. Talvez porque eu cansei. Cansei de condicionar minha felicidade a alguém que me mande “bom dia” e “boa noite” com emoji de coração.

Cansei de achar que só vou ser suficiente se tiver alguém me desejando.

Felicidade não é um relacionamento.
É um estado de espírito.
É se olhar no espelho de calcinha bege e ainda assim se sentir gostosa.
É saber que, no fim do dia, quem segura tua onda é você mesma.
E que tá tudo bem. Mais do que bem.

Então hoje, declaro oficialmente:

Que sejamos putamente felizes.

Sozinhas.
Acompanhadas.
Com vinho ou sem.
Com ou sem mensagens visualizadas.
Porque no final, o amor próprio não some quando acaba a bateria.
E a gente?
Ah, meu bem…
A gente é o evento principal.