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XVIII de Agosto-25

Leia ouvindo : Here's your perfect -Jamie Miller

Ó vós que sois o tormento e a luz de meus olhos, escutai este suspiro que nasce da carne e da alma! Antes mesmo que minhas mãos toquem o papel, meu coração clama por vossa lembrança, e a boca ousa murmurar vosso nome em segredo. Que o céu, cúmplice e cruel, me conceda apenas a lembrança de vosso olhar, pois jamais me foi dado possuir-vos. Eis aqui minha alma exposta, à mercê do capricho do destino, ardendo em cada sílaba, sangrando em cada silêncio e ainda assim, em toda a dor, agradeço o breve instante em que nossos mundos se tocaram.

Ó destino cruel, que em vossa astúcia me lançastes diante de um par de olhos castanhos apenas para me condenar ao tormento da memória! Pois, desde o instante em que vossa face se voltou à minha, jurei  não com palavras, mas com o coração em silêncio  que jamais vos esqueceria.

Vede como vossa lembrança arde em mim: como se o próprio tempo tivesse parado para pintar em minha alma o retrato do vosso olhar. Apenas um segundo, e ainda assim um segundo que pesa como eternidade. E, ai de mim, mal desviaste teu rosto e já todo o meu ser clamava pela tua ausência, como o deserto clama pela chuva que nunca vem.

Que injustiça é esta! O mundo poderia consumir-se em fogo, e nada me devoraria mais do que a visão de teus olhos, não voltados a mim, mas acendendo-se por outra alma. Saber que vossas risadas ecoaram em ouvidos alheios, que vossos lábios pronunciaram nomes que não os meus, que vosso peito já estremeceu ao toque de mãos que não as minhas  que dor pungente, mais cruel que o punhal do inimigo.

E, contudo, como poderias sentir falta de quem nunca conhecestes? Eis o paradoxo que me fere: pertenço-vos sem que jamais tenha sido vossa.

Ó deuses zombeteiros! Se foi acaso, se foi destino, pouco importa: destes-me o dom de vos enxergar além de vossas sombras, mas recusastes a mim o tempo, que é o mais precioso dos presentes. Pois, justo quando chego, sois incapaz de confiar, e eu, incapaz de partir.

Ainda assim, agradeço. Agradeço os cinco segundos em que nossas almas, atrevidas como amantes em segredo, ousaram reconhecer-se. Se outra vida houver, rogo que o céu nos conceda menos feridas, menos medos, e que eu seja, então, a única a incendiar vosso olhar.

Com devoção eterna,
vossa princesa.