Hoje, por um capricho da memória, quis escrever-lhe. Não uma vez, nem duas tantas, que perdi o número. Mas a razão, essa velha conselheira cansada, pôs-se entre mim e o impulso, e nada foi dito. Pensei nele ao perceber que não almoçara. Era ele quem me lembrava dessas miudezas de comer, de existir. Mais tarde, quando o trabalho me pareceu inútil, senti o mesmo ímpeto: ouvir de novo aquele “vai passar” que, vindo dele, fazia o mundo parecer menos pesado. Ao cair da tarde, quase cedi. O sol escondia-se por trás dos prédios, e eu quase disse o que me doía: que menti, que sentir falta é uma forma discreta de morrer, que aceitaria migalhas, desde que viessem de sua mão. Mas calei-me. Há dignidades que nascem do silêncio ou da covardia, não sei bem. Abri nossa conversa um sem-número de vezes. Li as palavras antigas como quem consulta um oráculo que já não responde. A blusa dele repousa sobre a cadeira, testemunha muda de uma ausência que se prolonga. Não a devolvi. Talvez po...
Um espaço onde o caos do coração é traduzido em palavras tortas e sensíveis, como quem escreve para se entender, mesmo que nunca se entenda por completo. Devaneios são fugas, mas também sua verdade, e seus desvarios, a forma mais crua de ser. Aqui, cada frase pulsa como um eco de suas incertezas, onde as lágrimas se transformam em riso e o amor se esconde na dor. É um lugar onde quem se perde, se encontra, e onde quem já amou demais, se permite amar mais uma vez.